Gosto da sensação de arrepio na pele… antes ainda dessa sensação de arrepio, gosto do aperto no estômago e do sorriso maroto que se forma espontaneamente após um pensamento a surgir. Gosto de rir sozinha e tentar que ele se apague, não por vergonhas mas por vontades...E por não te ter aqui, ali, ou noutro lado qualquer à mão… não posso dar-me a esse luxo de te sussurrar ao ouvido e rirmos alto, num riso ansioso de quem não está muito à vontade. Mas permito-me estar assim, quase a flutuar e consinto à imaginação um voo mais alto que o normal. Saboreio cada pensamento e construo uma história quase de encantar. Encantar? Talvez esse não seja o conceito mais correcto para pensamentos que nos fazem a boca secar e o coração ficar um pouquinho vais vermelho. Definitivamente não, encantar é para sonhos cor-de-rosa e grandes histórias de amor. Aquilo que falo acontece antes, ainda antes de qualquer estranha parecença com amor. Amor? Mas para quê e porquê falar de amor aqui e agora. Nada disso. Falo do engolir em seco por uma qualquer imagem menos racional a surgir do fundo das costas e atravessar toda a medula numa sensação que nos distrai de qualquer saber-estar racional. Então, todos os saberes se misturam a única coisa que sabemos é do sabor doce ou amargo, salgado ou insosso, intenso ou desenxabido, com que ficamos. Novamente uma sensação. Sorriso parvo… e abano a cabeça rapidamente na tentativa de o fazer o fugir, ao pensamento. Mas não foge e fica, e fica o dia inteiro, a tarde inteira à espera que o desenvolva que o agarre, que me vá deitar com ele e fique com insónias e adormeça, ainda que tardiamente com ele. E de manhã, não fuigiu, ficou para me trazer um sorriso de bom dia e um beijo imaginado naquele sitio um pouquinho mais abaixo da nuca, arrantando-me o cabelo e encostando os lábio ainda quentes, porque eu durmo sempre de lado e de costas para esse pensamento e tenho a tua mão desenhada por baixo do meu corpo, no lenço, porque durmo de lado, contigo atrás e o teu braço debaixo do meu corpo num abraço. Também desenhei o teu braço no lençol que me cobre, porque durmo de lado, contigo atrás de mim, encostado a mim, o braço por cima de mim, num abraço. A tua mão poisa no meu corpo… essa não a preciso de desenhar porque ainda a sinto nesse sitio onde a poisavas sempre antes de adormecermos e numa dança quase perfeita encaixávamos demasiado bem. Volto a abanar a cabeça, a pensar em papagaios azuis, mas a imagem continua a não fugir. Por hoje deixo-a ficar… afinal de contas de que estou eu a falar? Não era de amor, nem de historias-de-encantar, antes…ainda antes de tudo isso… ainda quando estranhamos os lençóis amachucados.